Uso do GoCif na tradução e utilização da CIF
Como o GoCif pode diminuir as barreiras do uso da CIF pelos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
Introdução
Neste momento você deve estar se perguntando porque um engenheiro de software se importa com a CIF e o porquê você também deveria se importar com ela.
Neste artigo eu vou te levar na minha jornada desde o conhecimento da CIF até o desenvolvimento de uma aplicação para ajudar profissionais de fisioterapia, psicologia e terapia ocupacional a traduzir e atribuir códigos da CIF nos seus diagnósticos clínicos funcionais.
Sumário
Para facilitar a sua leitura, dividi o texto em tópicos para que você encontre o conteúdo procurado de forma fácil. Tópicos a serem abordados:
- O que é a CIF?
- Como conheci a CIF
- O que é o GoCif?
- Próximos Passos
- Conclusão
O que é a CIF?
A Classificação Internacional de Incapacidade e Funcionalidade(CIF), foi aprovada pela ONU em 2001 como uma ferramenta que estabelece uma linguagem comum para profissionais de saúde e gestores na hora de discutir os aspectos funcionais dos pacientes.
Escrevi um artigo explicando a CIF de forma breve, se tiver interesse em aprender a mesma de forma aprofundada essa cartilha desenvolvida pela USP é bem completa e pode te guiar pelas inúmeras vantagens do uso de um sistema de codificação universal.
Como conheci a CIF
Uma das vantagens de se dividir o lar com duas estudantes de fisioterapia, é que você acaba aprendendo detalhes do dia a dia desses profissionais e como um bom cientista da computação, você começa a observar quais processos poderiam ser automatizados ou realizados com maior eficiência (Porque sério, todos temos coisas melhores para fazer do que realizar atividades desnecessárias né?).
Em uma dessas conversas, um tema em especial me chamou atenção: existe uma forma de se classificar a funcionalidade e incapacidade de um paciente através de códigos, e esses códigos são usados no mundo todo! Bem legal, não é mesmo?
Minha primeira reação foi imaginar o tanto de aplicações que poderiam se utilizar de um sistema de classificação com base em códigos, tanto para tomada de decisão por parte de gestores e do governo quanto para comunicação mais eficiente e padronizada entre profissionais de saúde.
Mas como nada na vida é perfeito, acabei descobrindo que pouquíssimos profissionais utilizam a CIF na prática. Os que utilizam, colocam ao lado do código, o título do mesmo; omitindo a descrição e significado completo dos qualificadores (importante parte do código da CIF, onde são definidos aspectos como gravidade e local da lesão). Algo que você pode estar se questionando agora é:
— Lucas, qual o problema de se colocar a explicação do código no prontuário ou documento de avaliação do paciente?
Apesar de parecer uma atitude inocente e até mesmo boa para agilizar o processo de reconhecimento do problema por outros profissionais, essa prática na verdade mascara alguns dos problemas básicos de implementação da CIF tanto no Brasil como no mundo. Dentre eles, um se destaca: Trabalhar com códigos é difícil.
Seres humanos, diferentemente de computadores, tem dificuldade de lembrar e de entender códigos. Somos bons interpretando linguagem natural e odiamos sair de nossa zona de conforto. Encontrar o código correto é uma tarefa difícil e demorada. Entender o código presente em um relatório exige a busca do mesmo em documentos PDF enormes e num dia a dia corrido e cheio de pacientes esperando para serem atendidos, porque você gastaria 10 minutos procurando algo que você conseguiria entender em 30 segundos se já estivesse escrito, não é mesmo?
A questão é que um texto em linguagem natural pode ser ambíguo e por este motivo, extremamente difícil de ser interpretado por computadores. Como profissional de saúde, você deve se preocupar com a primeira parte do problema. Como cientista da computação eu tendo a me preocupar mais com a segunda parte.
A fisioterapia é uma das profissões que poderia se beneficiar do acesso a grandes volumes de informação para melhorar o diagnóstico e identificar quais técnicas vem obtendo uma taxa de sucesso maior em casos similares. Para que isso seja possível é preciso que os dados estejam disponíveis de forma estruturada e devidamente classificados. Ter os dados estruturados é apenas o primeiro passo. Para que seja possível aplicar técnicas de inteligência artificial como o Raciocínio Baseado em Casos (RBC) (que utiliza problemas conhecidos e semelhantes para resolver problemas atuais) é preciso eliminar ambiguidades e analizar as informações preferencialmente sob uma mesma métrica. É neste ponto que a CIF pode brilhar. Ela é exatamente esta métrica.
Infelizmente entender a importância da CIF não é o suficiente para estimular o seu uso. Afinal de contas, continuamos tendo dificuldade em entender e aplicar códigos. Por isso, resolvi criar o GoCif como agente duplo que joga tanto do lado dos seres humanos quanto dos computadores.
O que é o GoCif?
O GoCif é uma ferramenta de tradução de códigos da CIF desenvolvida para facilitar e estimular o uso da mesma na prática clínica.
Disponível em: https://gocif.herokuapp.com/
Ele foi criado como uma aplicação Web, porque durante as minhas pesquisas eu percebi que o momento de maior uso seria no consultório diante de um computador (Desktop), no entanto isto não restringe seu uso mobile (Smartphones) pois o site foi otimizado para acesso tanto em celulares quanto em computadores.
Existem dois gargalos principais no uso da CIF:
1- a identificação do problema e classificação do mesmo usando o código
2- a tradução do código para linguagem natural.
O primeiro ocorre no momento de admissão do paciente, em sua primeira avaliação e o segundo ocorre durante o acompanhamento posterior da ficha, tanto pelo profissional que o avaliou quanto por outros que venham a realizar algum atendimento.
O GoCif ajuda os profissionais nos dois momentos. Na opção "Encontrar o Código" é possível pesquisar por palavras chave e filtrar quais os códigos que possuem as mesmas, diminuindo assim o tempo de procura e classificação. Já na opção "Pesquisar Código" é possível traduzir os códigos e seus qualificadores para linguagem natural de forma simples e rápida. Tornando a necessidade de se anotar a descrição do código dispensável e ao mesmo tempo garantindo mais segurança de que não houve perda de informação.
Na opção "Ajuda" localizada na aba superior é possível encontrar o significado de cada qualificador a depender da posição e do tipo de código.
Próximos passos
Como foi mencionado, trabalhar com linguagem natural não é uma tarefa trivial do ponto de vista computacional. No entanto é possível utilizar algoritmos de classificação de texto para melhorar a sugestão dos códigos da CIF. Existindo inclusive alguns estudos no exterior que comparam o desempenho destes algoritmos na classificação correta do texto com o código CIF.
Atualmente eu estou trabalhando em um modelo que realize a sugestão de códigos para diagnósticos clínicos funcionais escritos em linguagem natural. Uma das dificuldades da criação deste modelo é a falta de documentos disponível para realizar o treinamento do algoritmo.
Estou aberto a sugestões e interessados podem entrar em contato comigo através do meu LinkedIn.
Conclusão
Resolver o problema do uso da CIF no Brasil vai muito além da existência de uma aplicação, depende do investimento e interesse dos hospitais em qualificar os profissionais que já estão no mercado há vários anos, e de uma fiscalização maior dos CREFITOS e COFITOS na utilização da mesma.
No entanto, o GoCif tem a capacidade de facilitar o uso da CIF tanto por quem já conhece e sabe da sua importância quanto por novos usuários que precisam traduzir códigos presentes em relatórios e outros documentos em que ela possa estar presente. Qualquer diminuição na fricção do uso da CIF no dia a dia é bem vinda e deve estimular o seu uso tanto nos estágios universitários quanto na prática profissional.
